Archive for novembro, 2014

Homenagem a Manoel de Barros

A literatura mundial perde mais um grande nome. O poeta brasileiro Manoel de Barros o faleceu ontem aos 97 anos.

Reconhecido no Brasil e internacionalmente, o escritor foi considerado por Drummond o “maior poeta brasileiro” vivo. Guimarães Rosa, outro revolucionário das palavras, comparou os escritos de Manoel de Barros a um “doce de coco”. Tinha ainda como admiradores declarados, Millôr Fernandes, Geraldo Carneiro e Antonio Houaiss. Recebeu vários prêmios literários.

Como legado deixou mais de vinte livros publicados no Brasil, todos repletos de delicadezas, originalidade e beleza.

A seguir mais uma amostra das maravilhas de seus poemas:

manoel

Tratado geral das grandezas do ínfimo

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.

Karina

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Eduardo Galeano

O diagnóstico e a terapêutica

Helena Murphy

O amor é uma das doenças mais bravas e contagiosas. Qualquer um
reconhece os doentes dessa doença. Fundas olheiras delatam que jamais dormimos,
despertos noite após noite pelos abraços, ou pela ausência de abraços, e padecemos
febres devastadoras e sentimos uma irresistível necessidade de dizer estupidezes. O
amor pode ser provocado deixando cair um punhadinho de pó de me ame, como por
descuido, no café ou na sopa ou na bebida. Pode ser provocado, mas não pode
impedir. Não o impede nem a água benta, nem o pó de hóstia; tampouco o dente de
alho, que nesse caso não serve para nada. O amor é surdo frente ao Verbo divino e
ao esconjuro das bruxas. Não há decreto de governo que possa com ele, nem poção
capaz de evitá-lo, embora as vivandeiras apregoem, nos mercados, infalíveis
beberagens com garantia e tudo.

(do Livro dos Abraços, Eduardo Galeano)

Karina

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