Archive for setembro, 2008

Vidas secas: literatura cheia de vida!

Hoje resolvemos falar um pouco sobre um livro espetacular: Vidas Secas. Trata-se de um romance publicado por Graciliano Ramos em 1938.

Graciliano Ramos foi um dos expoentes do modernismo brasileiro. Nasceu em Quebrangulo, Alagoas, em 27 de outubro de 1892 e faleceu em 20 de março de 1953, no Rio de Janeiro. A crítica literária o considera o maior romancista moderno do Brasil, principalmente por ter explorado com maestria temas fortes como a violência, a morte e a luta pela sobrevivência.

Vidas Secas, esse romance genial enfoca especialmente essa luta pela subsistência quando o ser humano se encontra nas condições mais precárias possíveis. O autor consegue penetrar profundamente no íntimo dos personagens, retratando fielmente os mais variados sentimentos.

Fabiano, o personagem principal do livro, é o típico homem moldado de acordo com o meio em que vive. Socialmente oprimido, muito simplório, de idéias curtas, o protagonista tem dificuldade em se comunicar e se ressente disso. Ora se reconhecendo como homem, ora como “bicho”, o personagem está sempre se sentindo inadequado. Sua ignorância o constrange.

Abaixo, segue um trecho dessa obra-prima. Aproveitem!

“Festa

Fabiano, sinha Vitória e os meninos iam à festa de Natal na cidade. Eram três horas, fazia grande calor, redemoinhos espalhavam por cima das árvores amarelas nuvens de poeira folhas secas.

Fabiano estava silencioso, olhando as imagens e as velas acesas, constrangido na roupa nova, o pescoço esticado, pisando em brasas. A multidão apertava-o mais que a roupa, embaraçava-o. de perneiras, gibão e guarda-peito, andava metido numa caixa, como tatu, mas saltava no lombo de um bicho e voava na catinga. Agora não podia virar-se: mãos e braços roçavam-lhe o corpo. Lembrou-se da surra que levara e da noite passada na cadeia. A sensação que experimentava não diferia muito da que tinha tido ao ser preso. Era como se as mãos e os braços da multidão fossem agarrá-lo, subjugá-lo, espremê-lo num canto de parede. Olhou as caras em redor. Evidentemente as criaturas que se juntavam ali não o viam, mas Fabiano sentia-se rodeado de inimigos, temia envolver-se em questões e acabar mal a noite. Soprava e esforçava-se inutilmente por abanar-se com o chapéu.

Difícil mover-se, estava amarrado. Lentamente conseguiu abrir caminho no povaréu, esgueirou-se até junto da pia de água benta, onde se deteve, receoso de perder de vista a mulher e os filhos. Ergueu-se na ponta dos pés, mas isto lhe arrancou um grunhido: os calcanhares esfolados começavam a afligi-lo. Distinguiu o cocó de sinha Vitória, que se escondia atrás de uma coluna. Provavelmente os meninos estavam com ela. A igreja cada vez mais se enchia. Para avistar a cabeça da mulher, Fabiano precisava estirar-se, voltar o rosto. e o colarinho furava-lhe o pescoço. As botinas e o colarinho eram indispensáveis. Não poderia assistir à novena calçado em alpercatas, a camisa de algodão aberta, mostrando o peito cabeludo. Seria desrespeito. Como tinha religião, entrava na igreja uma vez por ano. E sempre vira, desde que se entendera, roupas de festa assim: calça e paletó engomados, botinas de elástico, chapéu de baeta, colarinho e gravata. Não se arriscaria a prejudicar a tradição, embora sofresse com ela. Supunha cumprir um dever, tentava aprumar-se. Mas a disposição esmorecia: o espinhaço vergava, naturalmente, os braços mexiam-se desengonçados.

Comparando-se aos tipos da cidade, Fabiano reconhecia-se inferior. Por isso desconfiava que os outros mangavam dele. Fazia-se carrancudo e evitava conversas. Só lhe falavam com o fim de tirar-lhe qualquer coisa. Os negociantes furtavam na medida, no preço e na conta. O patrão realizava com pena e tinta cálculos incompreensíveis. Da última vez que se tinham encontrado houvera uma confusão de números, e Fabiano, com os miolos ardendo, deixara indignado o escritório do branco, certo de que fora enganado. Todos lhe davam prejuízo. Os caixeiros, os comerciantes e o proprietário tiravam-lhe o couro, e os que não tinham negócio com ele riam vendo-o passar nas ruas, tropeçando. Por isso Fabiano desviava daqueles viventes. Sabia que a roupa nova cortada e cosida por sinha Terta, o colarinho, a gravata, as botinas e o chapéu de baeta o tornavam ridículo, mas não queria pensar nisto.”

Telma

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Olavo Bilac para crianças!

Já falamos aqui neste blog que Olavo Bilac foi um dos maiores nomes da literatura brasileira em sua fase parnasiana. Seus poemas são um primor no que diz respeito ao culto da forma e à linguagem elaborada, sem deixar a emoção de lado.

Mas Bilac não escreveu só para gente grande. Aproveitou seu talento para elaborar poemas dedicados às crianças.

A seguir reproduziremos alguns deles que, certamente, encantarão os leitores.

 

A Avó

“A avó, que tem oitenta anos,

Está tão fraca e velhinha! . . .

Teve tantos desenganos!

Ficou branquinha, branquinha,

Com os desgostos humanos.

Hoje, na sua cadeira,

Repousa, pálida e fria,

Depois de tanta canseira:

E cochila todo o dia,

E cochila a noite inteira.

Às vezes, porém, o bando

Dos netos invade a sala . . .

Entram rindo e papagueando:

Este briga, aquele fala,

Aquele dança, pulando . . .

A velha acorda sorrindo,

E a alegria a transfigura;

Seu rosto fica mais lindo,

Vendo tanta travessura,

E tanto barulho ouvindo.

Chama os netos adorados,

Beija-os, e, tremulamente,

Passa os dedos engelhados,

Lentamente, lentamente,

Por seus cabelos, doirados.

Fica mais moça, e palpita,

E recupera a memória,

Quando um dos netinhos grita:

“Ó vovó! conte uma história!

Conte uma história bonita!”

Então, com frases pausadas,

Conta historias de quimeras,

Em que há palácios de fadas,

E feiticeiras, e feras,

E princesas encantadas . . .

E os netinhos estremecem,

Os contos acompanhando,

E as travessuras esquecem,

– Até que, a fronte inclinando

Sobre o seu colo, adormecem . . .”

–//–

A Borboleta

Trazendo uma borboleta,

Volta Alfredo para casa.

Como é linda! é toda preta,

Com listas douradas na asa.

Tonta, nas mãos da criança,

Batendo as asas, num susto,

Quer fuguir, porfia, cansa,

E treme, e respira a custo.

Contente, o menino grita:

“É a primeira que apanho,

“Mamãe! vê como é bonita!

“Que cores e que tamanho!

“Como voava no mato!

“Vou sem demora pregá-la

“Por baixo do meu retrato,

“Numa parede da sala”.

Mas a mamãe, com carinho,

Lhe diz: “Que mal te fazia,

“Meu filho, esse animalzinho,

“Que livre e alegre vivia?

“Solta essa pobre coitada!

“Larga-lhe as asas, Alfredo!

“Vê com treme assustada . . .

“Vê como treme de medo . . .

“Para sem pena espetá-la

“Numa parede, menino,

“É necessário matá-la:

“Queres ser um assassino?”

Pensa Alfredo . . . E, de repente,

Solta a borboleta . . . E ela

Abre as asas livremente,

E foge pela janela.

“Assim, meu filho! perdeste

“A borboleta dourada,

“Porém na estima cresceste

“De tua mãe adorada . . .

“Que cada um cumpra sua sorte

“Das mãos de Deus recebida:

“Pois só pode dar a Morte

“Aquele que dá a Vida!”

–//–

 O Universo
(Paráfrase)


A Lua:

Sou um pequeno mundo;

Movo-me, rolo e danço

Por este céu profundo;

Por sorte Deus me deu

Mover-me sem descanso,

Em torno de outro mundo,

Que inda é maior do que eu.

A Terra:

Eu sou esse outro mundo;

A lua me acompanha,

Por este céu profundo . . .

Mas é destino meu

Rolar, assim tamanha,

Em torno de outro mundo,

Que inda é maior do que eu.

O Sol:

Eu sou esse outro mundo,

Eu sou o sol ardente!

Dou luz ao céu profundo . . .

Porém, sou um pigmeu,

Quer rolo eternamente

Em torno de outro mundo,

Que inda é maior do que eu.

O Homem:

Por que, no céu profundo,

Não há-de parar mais

O vosso movimento?

Astros! qual é o mundo,

Em torno ao qual rodais

Por esse firmamento?

Todos os Astros:

Não chega o teu estudo

Ao centro disso tudo,

Que escapa aos olhos teus!

O centro disso tudo,

Homem vaidoso, é Deus!

 

 Karina

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Drummond eterno

Carlos Drummond de Andrade foi, sem dúvida nenhuma, o grande nome da poesia brasileira contemporânea.

O escritor – reconhecido mundialmente – nasceu em 31 de outubro de 1902 em Itabira, Minas Gerais e faleceu em 17 de agosto de 1987. Sua obra poética é riquíssima: suas poesias retratam a realidade do dia a dia e caracterizam-se pelo ponto de vista cético e até mesmo amargo do autor em relação à vida e ao homem, sem, no entanto, deixar a sátira e o bom humor de lado. Além de poesia, Drummond publicou diversos livros em prosa.

Abaixo destacamos um poema que descreve com perfeição a dor e a revolta diante da ausência:

A um ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair
.


Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,

enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?


Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste
.”

 Karina

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Flor Bela de Alma da Conceição Espanca

A poetisa portugesa Florbela Espanca nasceu em 1894. Encabeçou o movimento feminista português, foi a primeira mulher a ingressar no Curso de Direito da Universidade de Lisboa e faleceu em 1930, não sem nos deixar todo um legado poético do mais alto nível. Suas poesias têm um forte traço romântico e feminino e é possível perceber que, de fato, Florbela era uma mulher à frente de seu tempo. Forte e bela como uma verdadeira flor.

A seguir, postamos uma de suas belíssimas poesias. Aproveitem!

Fanatismo

“Minh´alma de sonhar-te anda perdida.

Meus olhos andam cegos de te ver.

Não és, sequer, a razão do meu viver,

Pois que tu és já toda a minha vida.

 

Não vejo nada, assim enlouquecida!

Passo no mundo, meu amor, a ler,

No misterioso livro do teu ser,

A mesma história tantas vezes lida.

 

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa.”

Quando me dizem isso, toda a graça

Duma boca divina fala em mim.

 

E, olhos postos em ti, digo de rastros:

“Ah! podem voar mundos, morrer astros,

que tu és como Deus: princípio e fim!”

Telma

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Para morrer de amor!

Eu e a Karina somos muito românticas, sensíveis ao extremo e estamos permanentemente apaixonadas, seja pelas pessoas, pela vida, pelos livros, pelos animais.

Claro que também cultuamos o amor romântico e não resistimos a um buquê de flores,  a uma musiquinha de amor, a um poema de derreter o coração, a filmes do gênero e tudo o mais que possa balançar as estruturas e mexer com a emoção.

Por isso, resolvemos postar algumas poesias românticas, daquelas quase tristes de tão doídas, e bem melosas mesmo, para ver se todos os leitores entram no clima do amor.

Mas aqui vocês só vão encontrar aquilo que consideramos a nata dos poemas amorosos, tanto hoje como em outros posts que certamente dedicaremos ao sentimento mais importante do mundo: o amor. Somente autores conceituados e textos vibrantes passarão pelo blog.

Deixem o coração bater mais forte com as palavras abaixo, colhidas dentre milhares de jóias preciosas da literatura universal:

“O grande momento.

A varanda era batida pelos ventos do mar

As árvores tinham flores que desciam para a morte,

Com a lentidão das lágrimas.

Veleiros seguiam para crepúsculos

Com as asas cansadas e brancas se despedindo.

O tempo fugia com uma doçura jamais de novo experimentada.

Mas o grande momento era quando os meus olhos

Conseguiam entrar pela noite fresca dos teus olhos”

(Augusto Frederico Schmidt)

“Sempre que te possuo, amor, entre os meus braços

Não sei como é que chegas nem sei como te vais.

Quando vou procurar-te, te encontro tão distante

Que me parece que não voltarás mais.

Era inverno de angústia a derradeira vez.

Vieste.

E rebrotou meu corpo de um pouco de alegria.

E quando eu já pensava que nem tudo era triste,

Estremeci de novo com minhas mãos vazias!”

(Pablo Neruda)

“Quanto mais eu fecho os olhos, melhor vejo:

Meu dia é noite quando estás ausente

E à noite eu vejo o sol se estás presente”

(William Shakespeare)

“Não, tu não és sonho.

És a existência.

Tens carne, tens fadiga e tens pudor

No calmo peito teu.

Tu és a estrela sem nome.

És a morada, és a cantiga do amor

És luz, és lírio, namorada!

Tu és todo o esplendor.

O último claustro da elegia sem fim, anjo!

Mendiga do triste verso meu.”

(Vinicius de Moraes)

“Apaga-me os olhos

E inda posso ver-te

Tranca-me os ouvidos

E inda posso ouvir-te.

E sem pés posso ainda ir para ti.

E sem boca posso ainda invocar-te.

Quebra-me os braços e posso apertar-te

Com o coração como com a mão.

Tapa-me o coração e o cérebro baterá.

E se me deitares fogo ao cérebro

Hei de continuar a trazer-te no sangue.”

(Rainer Maria Rilke)

Telma

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Poesia para criança

Estamos muito felizes em constatar que alguns dos posts mais acessados são os referentes à poesia para crianças. Isso significa que a preocupação no sentido de que nossas crianças se familiarizem com a literatura é constante.

Realmente as poesias infantis são perfeitas para que as crianças se habituem a ler, pois divertem sem ter a densidade de um livro.

Além do extraordinário Vinicius  – já citado em posts anteriores – outros escritores fizeram poesia destinada aos pequenos.

Cecília Meireles, com maestria,  costuma encantar o público infantil (e adulto) com seus poemas. E são dela os textos que postaremos abaixo. Bom divertimento!

O Cavalinho Branco

À tarde, o cavalinho branco
está muito cansado:

mas há um pedacinho do campo
onde é sempre feriado.

O cavalo sacode a crina
loura e comprida

e nas verdes ervas atira
sua branca vida.

Seu relincho estremece as raízes
e ele ensina aos ventos

a alegria de sentir livres
seus movimentos.

Trabalhou todo o dia, tanto!
desde a madrugada!

Descansa entre as flores, cavalinho branco,
de crina dourada!

 –//–

  Menino Azul

O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
– de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)

  BOLHAS

Olha a bolha d’água
no galho!
Olha o orvalho!

Olha a bolha de vinho
na rolha!
Olha a bolha!

Olha a bolha na mão
que trabalha!

Olha a bolha de sabão
na ponta da palha:
brilha, espelha
e se espalha
Olha a bolha!

Olha a bolha
que molha
a mão do menino:

A bolha da chuva da calha !

–//–

Ou Isto ou Aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Karina

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João e Maria: composição única e eterna.

Uma das letras de Chico Buarque que mais nos encanta, dentre tantas especiais, é João e Maria, a qual, embora haja controvérsias, foi escrita em 1977. Talvez pela pureza de seus dizeres, pela doçura da estória contada, ou quem sabe pela aura de faz-de-conta que ela passa é que a música João e Maria emociona tanto. De qualquer forma, a letra é espetacular e não nos cansamos de ouvir a melodia.

Segue a letra da maravilhosa música, para deleite dos fãs do grande Chico.

Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três.

Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava um rock para as matinês.

Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigada a ser feliz.

E você era a princesa
Que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país.

Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido.

Sim, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade
Acho que a gente nem tinha nascido.

Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim.

Pois você sumiu no mundo
Sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim.


Telma

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Pensamento do dia

O homem deveria ler como quem vê, como quem ouve, como quem respira. Ou mais: o homem deveria ler com o mesmo prazer como quem vê um pôr-do-sol, ouve uma canção ou enche de ar seus pulmões numa manhã de outono. Afinal, o prazer passa pelos sentidos.” (Ensaio para um poema – Ziraldo)

Karina

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“Morte e Vida Severina”

“…E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina
.”

O belíssimo trecho acima refere-se à parte final do premiado poema dramático “Morte e Vida Severina”, escrito por João Cabral de Melo Neto em 1955 a pedido de Maria Clara Machado para encenação no teatro “O Tablado.” O poema foi ainda objeto de espetáculos que percorreram diversas capitais brasileiras e europeias.

Morte e Vida Severina narra a saga de Severino, retirante que percorre longa jornada de sua cidade de origem no sertão nordestino até a capital Recife em busca de melhores condições de vida. Durante o percurso, Severino se depara com a morte muitas vezes e ela é representada em diversas situações, como no trecho em que o retirante encontra o rio Capibaribe com seu curso interrompido pela seca. Severino, desesperançado diante de tanta miséria e fome, pensa frequentemente em desistir e “saltar fora da vida”. Mas,  o otimismo ressurge no trecho final do texto, quando Severino assiste ao nascimento de uma criança, que simboliza a “explosão da vida” e a esperança de um tempo mais justo.

João Cabral de Melo Neto nasceu no Recife em 09/01/1920 e foi um dos mais importantes escritores da geração pós-modernista da literatura brasileira, destacando-se pela objetividade e facilidade em descrever com realismo as situações do cotidiano. A partir de 1950, João Cabral de Melo Neto passou a preocupar-se mais com a realidade social, principalmente do nordeste. Daí surge, dentre outros,  o poema “Morte e Vida Severina”, obra que popularizou o autor e que merece ser lida na íntegra, pela sua extrema beleza e lucidez.

Karina

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Pense antes de votar!

É época de eleições. Muitos estão desiludidos e não querem sequer ouvir falar em política…  Mas será que vale a pena ficar indiferente?

Abaixo texto inspirador do dramaturgo e escritor alemão Bertolt Brecht (1898-1956)  para reflexão:

O Analfabeto político

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo
.”

Karina

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