Claro que não iremos nos arvorar na impossível missão de elucidar o gênio Guimarães Rosa. Deixamos isso para os grandes estudiosos do assunto. Fato é que Riobaldo, jagunço sertanejo, o personagem central do incrível “Grande Sertão Veredas” é um dos protagonistas mais cativantes e desafiadores da história da literatura mundial.
Marcado por trechos arrasadoramente inteligentes, a obra é daquelas que não podem deixar de ser lidas. Abaixo, apenas para aguçar a curiosidade do sagaz leitor, transcrevo alguns trechos:
“… Relembro Diadorim. Minha mulher que não me ouça. Moço: toda saudade é uma espécie de velhice.”
“… Toda mãe vive de boa, mas cada uma cumpre sua paga prenda singular, que é a dela e dela, diversa bondade. E eu nunca tinha pensado nessa ordem. Para mim, minha mãe era a minha mãe, essas coisas. Agora, eu achava. A bondade especial de minha mãe tinha sido a de amor constando com a justiça, que eu menino precisava. E a de, mesmo punir meus demaseios, querer bem às minhas alegrias. A lembrança dela me fantasiou, fraseou – só face dum momento – feito grandeza cantável, feito entre madrugar e manhecer. “
“Refiro ao senhor: um outro doutor, doutor rapaz, que explorava as pedras turmalinas no vale do Arassuaí, discorreu me dizendo que a vida da gente encarna e reencarna, por progresso próprio, mas que Deus não há. Estremeço. Como não ter Deus? Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar – é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois, no fim dá certo.”
“…Eu careço que o bom seja bom e o ruim ruim, que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza! Quero todos os pastos demarcados. Como é que posso com este mundo? A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero. Ao que, este mundo é muito misturado.”
Telma