Falar de Machado de Assis não é tarefa fácil. O escritor brasileiro foi e ainda é um dos maiores gênios da literatura brasileira e mundial.
Assim, não temos a pretensão de analisar sua riquíssima e complexa obra literária. Deixamos tal mister para os críticos e estudiosos da literatura. O que nos interessa aqui é postar trechos de livros, frases e pensamentos do autor para deleite dos leitores.
Apenas para pincelar, destacaremos alguns pontos importantes sobre a vida e obra do autor:
Joaquim Maria Machado de Assis, nasceu a 21 de junho de 1839, no Rio de Janeiro. Filho de um operário brasileiro – mestiço de negro e português, e de uma portuguesa – lavadeira, Machado de Assis jamais teve acesso a cursos regulares. Frequentou por pouco tempo a escola pública, onde aprendeu as primeiras letras. Seu aprendizado se deu exclusivamente por méritos próprios. Autodidata, escreveu seu primeiro poema aos 16 anos de idade.
Aos 17 anos, Machado de Assis, começa a trabalhar como aprendiz de tipógrafo e depois ocupa o cargo de revisor, ao mesmo tempo em que colabora com artigos em diversos jornais. A partir daí não pára mais de escrever, integrando-se rapidamente ao círculo dos notáveis escritores da época.
Casou-se em 1862 com a portuguesa Carolina Xavier de Novais – mulher culta com quem viveu por 35 anos.
Sua obra costuma ser dividida pelos estudiosos em duas fases: romântica e realista, embora muitos achem que Machado de Assis não se enquadra totalmente em nenhuma escola literária, tamanho é o seu diferencial.
Na fase romântica, ainda preso a preceitos da escola romântica, publicou três livros de poesia e alguns romances famosos, como “Ressureição”, “A Mão e a Luva”, “Helena” etc. Mas foi na fase realista que Machado de Assis se destacou como romancista e contista. De fato, é nessa fase que o escritor publicou suas verdadeiras obras-primas, como “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Dom Casmurro,” que o tornaram o maior escritor brasileiro de todos os tempos.
A prosa de Machado de Assis na fase realista tem como principais características a análise psicológica profunda dos personagens e da sociedade, a crítica ao romantismo, o sarcasmo, a linguagem correta, a conversa com o leitor, o pessimismo etc.
Machado de Assis, foi cronista, romancista, contista, poeta, dramaturgo, crítico e ensaísta. Aos 57 anos de idade tornou-se o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, que passou a ser chamada também de Casa de Machado de Assis.
Machado de Assis morreu em 1908 e sua obra revolucionou irremediavelmente a literatura brasileira. Hoje, 100 anos após a sua morte, seus livros continuam atuais e seu estilo influencia centenas de escritores.
Dizem os críticos a respeito de Machado de Assis:
“O domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento, além da desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que se afaste de seus contemporâneos.”
Mais não é preciso escrever. Apenas saboreiem:
“Que a mão do tempo e o hálito dos homens
Murchem a flor das ilusões da vida,
Musa consoladora, É no teu seio amigo e sossegado
Que o poeta respira o suave sono.” (Crisálidas)
“Sonhará uns amores de romance, quase impossíveis? digo-lhe que faz mal, que é melhor, muito melhor contentar-se com a realidade; se ela não é brilhante como os sonhos, tem pelo menos a vantagem de existir.” (em “A Mão e a Luva”)
“Naturalmente parece-lhe fraqueza amar, – isto é, a cousa mais natural do mundo, – a mais bela, – não direi a mais sublime. Os homens sérios têm preconceitos extravagantes. Confesse que ama, que não é indiferente a esse sentimento inexprimível que liga, ou para sempre, ou por algum tempo, duas criaturas humanas.” (em “Helena”)
“…O prazer do beneficiador é sempre maior que o do beneficiado….A persistência do benefício na memória de quem o exerce explica-se pela natureza mesma do benefício e seus efeitos. Primeiramente há o sentimento de uma boa ação, e dedutivamente a consciência de que somos capazes de boas ações; em segundo lugar, recebe-se uma convicção de superioridade sobre outra criatura…e esta é uma das coisas mais legitimamente agradáveis ao organismo humano…” (Teoria do Benefício)
“A leitora, que é minha amiga e abriu este livro com o fim de descansar da cavatina de ontem para a valsa de hoje, que fechá-lo às pressas, ao ver que beiramos um abismo. Não faça isso, querida; eu mudo de rumo.” (em “Dom Casmurro”)
“Não tive filhos. Não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” (em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”)
“Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os; eles fazem bem à alma e até ao corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado.” (em “A semana”)
“Antes do poeta mostra-se o homem, antes do talento o caráter.” (em “Comentários da Semana”)
“Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento.”
“A abolição é a aurora da liberdade; emancipado o preto, resta emancipar o branco.” (em “Esaú e Jacó”)
“Não há alegria pública que valha uma boa alegria particular.” (em “Memorial de Aires”)
“Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis…” (em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”)
“Só as grandes paixões são capazes de grandes ações.” (em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”)
“Um dos defeitos mais gerais, entre nós, é achar sério o que é ridículo, e ridículo o que é sério, pois o tato para acertar nestas coisas é também uma virtude do povo.” (ao falar sobre o Brasil)
“O casamento é a pior ou a melhor coisa do mundo; pura questão de temperamento.” (em “Helena”)
“Não é a ocasião que faz o ladrão, dizia ele a alguém; o provérbio está errado. A forma exata deve ser esta: ‘A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito.” ( em “Esaú e Jacó”)
“O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado.” (em “Quincas Borba”)
“Quando estimo alguém, perdôo; quando não estimo, esqueço. Perdoar e esquecer é raro, mas não é impossível; está nas tuas mãos.” (em “Iaiá Garcia”)
“Ouça-me este conselho: em política, não se perdoa nem se esquece nada.” (em “Quincas Borba”)
“O presente que se ignora vale o futuro.” (em “A Cartomante” – Várias Histórias)
“Matamos o tempo; o tempo nos enterra.” (em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”)
“Eu sei que vossa excelência preferia uma delicada mentira; mas eu não conheço nada mais delicado que a verdade.” (em “Contos Fluminenses”)
“Quem conhece o solo e o subsolo da vida, sabe muito bem que um trecho de muro, um banco, um tapete, um guarda-chuva, são ricos de idéias ou de sentimentos, quando nós também o somos, e que as reflexões de parceria entre os homens e as coisas compõem um dos mais interessantes fenômenos da terra.” (em “Quincas Borba”)
Karina