Posts tagged trechos

Mais Saramago

“A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:

“Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre”.

(José Saramago in Viagem a Portugal)

 

Karina

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Clarice

… Então a borboleta

abre lentamente

suas asas sobre a folha

E sai a borboletear feito

uma doidinha

levíssima e alegríssima.

Sua vida é breve, mas intensa….

 

(Clarice Lispector)

Karina

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Rubem Alves

“Memórias não podem ser esquecidas. O passado, uma vez vivido, entra em nosso sangue, molda nosso corpo, escolhe nossas palavras. É inútil renegá-lo. As cicatrizes e os sorrisos permanecem. Os olhos dos que sofreram e amaram serão, para sempre, diferentes de todos os outros. Resta-nos fazer as pazes com aquilo que já fomos, reconhecendo que, de um jeito ou de outro, aquilo que já fomos continua vivo em nós, seja sob a forma de demônios que queremos exorcizar e esquecer, sem sucesso, seja sob a forma de memórias que preservamos com saudade e nos fazem sorrir com esperança.”

(Rubem Alves in Dogmatismo e Tolerância, p. 19)

 

Karina

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Um grande homem

Não canso de admirar o homem consciente que foi José Saramago. Sensível às mazelas da humanidade e pessimista com relação ao nosso futuro, caso não mudemos nossa forma de agir, ele nos deixou mensagens sábias.

Eis alguns trechos extraídos do livro “As palavras de Saramago”, organizado por Fernando Gómez Aguilera e publicado pela Companhia das Letras:

“Nós, os seres humanos, matamos mais que a morte.”

“(…) uma imagem do mundo em que vivemos: um mundo de intolerância, de exploração, de crueldade, de cinismo. Mas dirão: “Também há gente boa”. Pois há, mas o mundo não vai nessa direção. Há pessoas humanizáveis, pessoas que vão se humanizando por esforço de supressão de egoísmos. Mas o mundo no seu conjunto não vai nessa direção.”

“Está se perdendo a capacidade de relacionar-se, de respeitar o outro na sua diferença, seja qual for. “

“(…) Vivemos em um mundo que se transformou em um espetáculo de quinta categoria, em que se exibem direto a morte, a humilhação…”

“Para mim, o cão é a encarnação da pureza moral.”

“(…) a alegria, se se está sozinho, é nada.”

“A pergunta que todos nós devíamos nos  fazer é: O que foi que eu fiz, se nada mudou? Deveríamos viver mais incomodados. O amanhã não existirá se não mudarmos o hoje.  (…) tudo o que carregamos nos ombros em nossa vida são vésperas, incluindo a desesperança e a desilusão, são as que influenciam no amanhã. É preciso fazer o trabalho todos os dias com as mãos, a cabeça, a semsibilidade, com tudo.”

“O que de pior pode acontecer conosco é nos resignarmos à ignorância. É preciso aprender a voltar a dizer “não” e a se perguntar por quê, para quê e para quem. Se encontrássemos respostas a essas perguntas, talvez melhoraríamos o mundo.”

“Divergir é um direito que está e estará escrito com tinta invisível em todas as declarações de direitos humanos do passado, do presente e do futuro. Divergir é um ato irrenunciável de consciência.”

“Estamos na era da burocracia absoluta, avançamos irremediavelmente rumo à ignorância. O homem, cercado de informações, perplexo, perde sua capacidade de indignação, de resposta: a mínima racionalidade. Estamos todos neuróticos?”

“Faz sentido enviar uma sonda para explorar Plutão enquanto aqui há pessoas morrendo de fome? Estamos neuróticos. A desigualdade se faz presente não só na distribuição de riqueza, mas também na satisfação das necessidades básicas. Não nos orientamos no sentido de uma racionalidade mínima. A Terra está cercada por milhares de satélites, podemos ter cem canais de televisão, mas de que serve tudo isso em um mundo onde tantas pessoas estão morrendo. Trata-se de uma neurose coletiva, as pessoas já não sabem o que realmente convém à sua felicidade.”

“Há três sexos: o feminino, o masculino e o poder. O poder muda as pessoas.”

“Quando a preocupação é cada vez mais ter, ter e ter, as pessoas se preocuparão cada vez menos em ser, ser e ser.”

Karina

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