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A cultura do terror

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“A cultura do terror /2

A extorsão
o insulto,
a ameaça
o cascudo,
a bofetada,
a surra,
o açoite,
o quarto escuro,
a ducha gelada,
o jejum obrigatório,
a comida obrigatória,
a proibição de sair,
a proibição de se dizer o que se pensa,
a proibição de fazer o que se sente,
e a humilhação pública
são alguns dos métodos de penitência e tortura tradicionais na vida da família. Para castigo à desobediência e exemplo de liberdade, a tradição familiar perpetua uma cultura do terror que humilha a mulher, ensina os filhos a mentir e contagia tudo com a peste do medo.

–Os direitos humanos deveriam começar em casa – comenta comigo, no Chile, Andrés Dominguez.”

(Eduardo Galeano in O Livro dos Abraços)

Karina

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A Cultura do Terror

“O Livro dos Abraços”, de Eduardo Galeano, é fonte de inesgotável aprendizado. Abaixo, segue mais um trecho muito interessante para reflexão do leitor.

A cultura do terror
A extorsão, o insulto, a ameaça
o cascudo,
a bofetada,
a surra,
o açoite,
o quarto escuro,
a ducha gelada,
o jejum obrigatório,
a comida obrigatória,
a proibição de sair,
a proibição de se dizer o que se pensa,
a proibição de fazer o que se sente,
e a humilhação pública
são alguns dos métodos de penitência e tortura tradicionais na vida da família. Para castigo à desobediência e exemplo de liberdade, a tradição familiar perpetua uma cultura do terror que humilha a mulher, ensina os filhos a mentir e contagia tudo com a peste do medo.
— Os direitos humanos deveriam começar em casa — comenta comigo, no Chile, Andrés Domínguez.

Telma

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Celebração da amizade

Em post anterior, já fizemos referência e deferência ao grande escritor uruguaio Eduardo Galeano. Abaixo, trazemos uma espetacular crônica sua, extraída da maravilhosa obra “O Livro dos Abraços”. Apreciem.

Celebração da amizade

Juan Gelman me contou que uma senhora brigou a guarda-chuvadas, numa avenida de Paris, contra uma brigada inteira de funcionários municipais. Os funcionários estavam caçando pombos quando ela emergiu de um incrível Ford bigode, um carro de museu, daqueles que funcionavam à manivela; e brandindo seu guarda-chuva, lançou-se ao ataque. Agitando os braços abriu caminho, e seu guarda-chuva justiceiro arrebentou as redes onde os pombos tinham sido aprisionados. Então, enquanto os pombos fugiam em alvoroço branco, a senhora avançou a guarda-chuvadas contra os funcionários.

Os funcionários só atinaram em se proteger, como puderam, com os braços, e balbuciavam protestos que ela não ouvia: mais respeito, minha senhora, faça-me o favor, estamos trabalhando, são ordens superiores, senhora, por que não vai bater no prefeito?, Senhora, que bicho picou a senhora?, esta mulher endoidou…

Quando a indignada senhora cansou o braço, e apoiou-se numa parede para tomar fôlego, os funcionários exigiram uma explicação. Depois de um longo silêncio, ela disse:

— Meu filho morreu.

Os funcionários disseram que lamentavam muito, mas que eles não tinham culpa. Também disseram que naquela manhã tinham muito o que fazer, a senhora compreende…

— Meu filho morreu — repetiu ela.

E os funcionários: sim, claro, mas que eles estavam ganhando a vida, que existem milhões de pombos soltos por Paris, que os pombos são a ruína desta cidade…

— Cretinos — fulminou a senhora.

E longe dos funcionários, longe de tudo, disse:

— Meu filho morreu e se transformou em pombo.

Os funcionários calaram e ficaram pensando um tempão. Finalmente, apontando os pombos que andavam pelos céus e telhados e calçadas, propuseram:

— Senhora: por que não leva seu filho embora e deixa a gente trabalhar?

Ela ajeitou o chapéu preto:

— Ah!, não! De jeito nenhum!

Olhou através dos funcionários, como se fossem de vidro, e disse muito serena:

— Eu não sei qual dos pombos é meu filho. E se soubesse, também não ia levá-lo embora. Que direito tenho eu de separá-lo de seus amigos?

Telma

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