Caros leitores:
No post anterior indicamos vários livros infantis do grande Monteiro Lobato, mas não poderíamos deixar de falar mais detalhadamente de Emília, a boneca falante.
Emília, a pesonagem mais marcante do Sítio do Picapau Amarelo, é considerada pelos críticos o alter-ego de Monteiro Lobato e merece destaque especial por seu carisma e “espírito libertário”.
Na obra de Lobato, Emília foi feita por Tia Nastácia, que a deu a Narizinho. Emília é feita de pano e recheada de macela, além de ter “olhos de retrós preto e sobrancelhas tão lá em cima que é ver uma bruxa”. Em diversos trechos das histórias, Narizinho (ou Tia Nastácia) é obrigada a consertar a boneca, enxertando-lhe mais “recheio” no corpo ou pregando-lhe novos olhos, uma vez que os seus vivem a arrebentar pois Emília os arregala demais.
Emília era muda, mas toma uma pílula do Dr. Caramujo e desanda a falar. A primeira frase dita pela boneca foi: “Estou com um horrível gosto de sapo na boca!” e falou “três horas sem tomar fôlego”. Narizinho ao ver que Emília pode falar conclui que “a fala de Emília não estava bem ajustada” e que “era de gênio teimoso e asneirenta, pensando a respeito de tudo de um modo especial todo seu.” Narizinho vive dizendo que Emília é uma “torneirinha de asneiras”, já que a boneca tem mania de arrumar explicações pouco comuns sobre todas as coisas, além de mudar o nome de tudo quanto vê.
Sobre a vida:
“…a vida, Senhor Visconde, é um pisca – pisca.
A gente nasce, isto é, começa a piscar.
Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso.
É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais.
A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso.Um rosário de piscadas.
Cada pisco é um dia.
pisca e mama;
pisca e anda;
pisca e brinca;
pisca e estuda;
pisca e ama;
pisca e cria filhos;
pisca e geme os reumatismos;
por fim, pisca pela última vez e morre.
– E depois que morre – perguntou o Visconde.
– Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?” (em Memórias de Emília)
Extremamente esperta e teimosa, Emília nunca dá o braço a torcer, mesmo quando não sabe sequer do que está falando. Vejam:
“Emília tinha idéias de verdadeira louca.
– Vou lá – dizia ela – e agarro nas orelhas de dona Carocha e dou um pontapé naquele nariz de papagaio e pego o Polegada pelas pelas botas e venho correndo.
Narizinho ria-se, ria-se…
– Vai lá onde, Emília?
– Lá onde mora a velha.
– E onde mora a velha?
A boneca não sabia, mas não se atrapalhava na resposta. Emília nunca se atrapalhou nas suas respostas. Dizia as maiores asneiras do mundo, mas respondia.
– A velha mora com o Pequeno Polegada.
– Polegar, Emília!
– PO-LE-GA-DA.
Era teimosa como ela só. Nunca disse doutor Caramujo. Era sempre doutor Cara de Coruja. E nunca quis dizer Polegar. Era sempre Polegada.” (trecho de Reinações de Narizinho)
Muito intrometida, Emília vive querendo solucionar a seu modo problemas e situações urgentes que ocorrem no sítio. Foi ela também que levou Narizinho a viver sua primeira aventura: as duas, a convite do Príncipe Escamado, vão conhecer o fantástico Reino das Águas Claras.
As aventuras de Emília são inúmeras e o que mais nos faz amá-la, além de seu carisma incontestável, é o seu espírito de liderança, a sua obstinação em manter seus pontos de vista e a sua eterna curiosidade acerca de todas as coisas.
Através de Emília, Monteiro Lobato, conseguiu passar sua visão de mundo para as crianças, de forma divertida, reflexiva e, muitas vezes, crítica.
Quem nunca se divertiu com as estripulias de Emília não sabe o que está perdendo…
Karina