Todos conhecem a famosíssima poesia romântica de Gonçalves Dias, denominada “Canção do Exílio”. Gonçalves Dias foi considerado o maior poeta indianista da literatura brasileira e escreveu a mencionada poesia quando estava longe de sua pátria. Ele cursava Direito em Coimbra e, saudoso do Brasil, resolveu elogiar a natureza de nossa terra.
Pois bem. Na fase literária do Modernismo, já em 1983, o também consagarado poeta Murilo Mendes decidiu reescrever a “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias, sob o ponto de vista dos tempos atuais, com mais críticas e sem o nacionalismo de outrora.
Vejam o resultado:
Canção do Exílio
Minha terra tem macieiras da Califórnia
Onde cantam gaturamos de Veneza
Os poetas da minha terra
São pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo as prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
Nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
Telma