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A Morte e o Amor

A Morte e o Amor

Somos todos imortais. Teoricamente imortais, claro. Hipocritamente imortais. Porque nunca consideramos a morte como uma possibilidade cotidiana, feito perder a hora no trabalho ou cortar-se fazendo a barba, por exemplo. Na nossa cabeça, a morte não acontece como pode acontecer de eu discar um número telefônico e, ao invés de alguém atender, dar sinal de ocupado. A morte, fantasticamente, deveria ser precedida de certo ‘clima’, certa ‘preparação’. Certa ‘grandeza’. Deve ser por isso que fico (ficamos todos, acho) tão abalado quando, sem nenhuma preparação, ela acontece de repente. E então o espanto e o desamparo, a incompreensão também, invadem a suposta ordem inabalável do arrumado (e por isso mesmo ‘eterno’) cotidiano. A morte de alguém conhecido e/ou amado estupra essa precária arrumação, essa falsa eternidade. A morte e o amor. Porque o amor, como a morte, também existe – e da mesma forma, dissimulada. Por trás, inaparente. Mas tão poderoso que, da mesma forma que a morte – pois o amor também é uma espécie de morte (a morte da solidão, a morte do ego trancado, indivisível, furiosa e egoisticamente incomunicável) – nos desarma. O acontecer do amor e da morte desmascaram nossa patética fragilidade.

Caio Fernando Abreu

Karina

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Chuva de Amor

O fragmento reproduzido abaixo foi escrito pelo gaúcho de Santiago (RS), Caio Fernando Abreu, que, com seu estilo original, encantou e continua encantando os seus leitores.

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“Tenho um amor fresco e com gosto de chuva

e raios e urgências.

Tenho um amor que me veio pronto,

assim, água que caiu de repente, nuvem

que não passa.

Me escorrem desejos pelo

rosto, pelo corpo.

Um amor susto.

Um amor raio trovão fazendo barulho.

Me bagunça e chove em mim todos os dias.”

Karina

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