Archive for abril 2, 2009

Atendendo a pedidos: Bocage

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Considerado o maior poeta português do século XVIII, Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu em 1765 em Setúbal, Portugal. Aos 16 anos de idade ingressou na infantaria de Setúbal e aos 18 alistou-se na Marinha, onde seguiu carreira militar, mas sem regularidade.

Bocage era um boêmio e foi através deste estilo de vida que pôde observar atentamente a sociedade lisboeta e seus costumes e depois publicar a sua obra satírica.

Os poemas satíricos do escritor português, embora tenham sido a alavanca para que ele se tornasse popular, são considerados pela crítica a parte menos importante de sua obra, tendo em vista que muitos deles beiravam a vulgaridade.

Bocage fez também poesia lírica, que é considerada a melhor parte de sua obra. A poesia lírica escrita por Bocage apresenta duas fases: a fase árcade e a fase pré-romântica, esta última tida como mais importante pelos críticos.

Bocage ainda escreveu inúmeras poesias eróticas.

O escritor era a favor da Revolução Francesa e por isso chegou a ser preso em 1797, acusado de crimes, entregue à Inquisição e até colocado em um hospício.

Libertado em 1800, Bocage passou a trabalhar como tradutor em uma tipografia. Faleceu cinco anos depois, com apenas 40 anos de idade. Sua morte gerou intensa comoção popular e Portugal perdeu um poeta de grande personalidade e inteligência.

Abaixo exemplos da poesia satírica e da poesia lírica de Bocage:

Poesia Satírica:

“Não chores, cara esposa, que o Destino
Manda que parta, à guerra me convida;
A honra prezo mais que a própria vida,
E se assim não fizera, fora indigno.

“Eu te acho, meu Conde, tão menino
Que receio…” – Ah! Não temas, não, querida;
A francesa nação será batida,
Este peito, que vês, é diamantino.

“Como é crível que sejas tão valente?…”
Eu herdei o valor de avós, e pais,
Que essa virtude tem a ilustre gente.

“Porém se as forças desiguais…?”
Irra, Condessa! És muito impertinente!
Tornarei a fugir, que queres mais?”
(Soneto do Diálogo Conjugal)

“Levando um velho avarento
Uma pedrada num olho,
Pôs-se-lhe no mesmo instante
Tamanho como um repolho.

Certo doutor, não das dúzias,
Mas sim médico perfeito,
Dez moedas lhe pedia
Para o livrar do defeito.

“Dez moedas! (diz o avaro)
Meu sangue não desperdiço:
Dez moedas por um olho!
O outro dou eu por isso.””
(Epigrama Imitado)

Poesia Lírica:

“Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel de paixões, que me arrastava.
Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Em mim quase imortal a essência humana!

De que inúmeros sóis a mente ufana
Existência falaz me não dourava!
Mas eis sucumbe Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua origem dana.

Prazeres, sócios meus e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos.

Deus, oh Deus! quando a morte a luz me roube,
Ganhe num momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube.”
(Soneto Saiba morrer o que viver não soube)

“Incultas produções da mocidade
Exponho a vossos olhos, ó leitores.
Vede-as com mágoa, vede-as com piedade,
Que elas buscam piedade e não louvores.

Ponderai da Fortuna a variedade
Nos meus suspiros, lágrimas e amores;
Notai dos males seus a imensidade,
A curta duração dos seus favores.

E se entre versos mil de sentimento
Encontrardes alguns, cuja aparência
Indique festival contentamento,

Crede, ó mortais, que foram com violência
Escritos pela mão do Fingimento,
Cantados pela voz da Dependência.”
(Incultas porduções da mocidade)

 Karina

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Mais poesia de Drummond

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Boca: nunca te beijarei.
Boca de outro que ris de mim,
no milímetro que nos separa,
cabem todos os abismos.

Boca: se meu desejo
é impotente para fechar-te,
bem sabes disto, zombas
de minha raiva inútil.

Boca amarga pois impossível,
doce boca (não provarei),
ris sem beijo para mim,
beijas outro com seriedade.

 Karina

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