Considerado o maior poeta português do século XVIII, Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu em 1765 em Setúbal, Portugal. Aos 16 anos de idade ingressou na infantaria de Setúbal e aos 18 alistou-se na Marinha, onde seguiu carreira militar, mas sem regularidade.
Bocage era um boêmio e foi através deste estilo de vida que pôde observar atentamente a sociedade lisboeta e seus costumes e depois publicar a sua obra satírica.
Os poemas satíricos do escritor português, embora tenham sido a alavanca para que ele se tornasse popular, são considerados pela crítica a parte menos importante de sua obra, tendo em vista que muitos deles beiravam a vulgaridade.
Bocage fez também poesia lírica, que é considerada a melhor parte de sua obra. A poesia lírica escrita por Bocage apresenta duas fases: a fase árcade e a fase pré-romântica, esta última tida como mais importante pelos críticos.
Bocage ainda escreveu inúmeras poesias eróticas.
O escritor era a favor da Revolução Francesa e por isso chegou a ser preso em 1797, acusado de crimes, entregue à Inquisição e até colocado em um hospício.
Libertado em 1800, Bocage passou a trabalhar como tradutor em uma tipografia. Faleceu cinco anos depois, com apenas 40 anos de idade. Sua morte gerou intensa comoção popular e Portugal perdeu um poeta de grande personalidade e inteligência.
Abaixo exemplos da poesia satírica e da poesia lírica de Bocage:
Poesia Satírica:
“Não chores, cara esposa, que o Destino
Manda que parta, à guerra me convida;
A honra prezo mais que a própria vida,
E se assim não fizera, fora indigno.
“Eu te acho, meu Conde, tão menino
Que receio…” – Ah! Não temas, não, querida;
A francesa nação será batida,
Este peito, que vês, é diamantino.
“Como é crível que sejas tão valente?…”
Eu herdei o valor de avós, e pais,
Que essa virtude tem a ilustre gente.
“Porém se as forças desiguais…?”
Irra, Condessa! És muito impertinente!
Tornarei a fugir, que queres mais?”
(Soneto do Diálogo Conjugal)
…
“Levando um velho avarento
Uma pedrada num olho,
Pôs-se-lhe no mesmo instante
Tamanho como um repolho.
Certo doutor, não das dúzias,
Mas sim médico perfeito,
Dez moedas lhe pedia
Para o livrar do defeito.
“Dez moedas! (diz o avaro)
Meu sangue não desperdiço:
Dez moedas por um olho!
O outro dou eu por isso.””
(Epigrama Imitado)
Poesia Lírica:
“Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel de paixões, que me arrastava.
Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Em mim quase imortal a essência humana!
De que inúmeros sóis a mente ufana
Existência falaz me não dourava!
Mas eis sucumbe Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua origem dana.
Prazeres, sócios meus e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos.
Deus, oh Deus! quando a morte a luz me roube,
Ganhe num momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube.”
(Soneto Saiba morrer o que viver não soube)
…
“Incultas produções da mocidade
Exponho a vossos olhos, ó leitores.
Vede-as com mágoa, vede-as com piedade,
Que elas buscam piedade e não louvores.
Ponderai da Fortuna a variedade
Nos meus suspiros, lágrimas e amores;
Notai dos males seus a imensidade,
A curta duração dos seus favores.
E se entre versos mil de sentimento
Encontrardes alguns, cuja aparência
Indique festival contentamento,
Crede, ó mortais, que foram com violência
Escritos pela mão do Fingimento,
Cantados pela voz da Dependência.”
(Incultas porduções da mocidade)
Karina